fotografia, processos, alternativas

Analógico, Calótipo, Diário

Calótipo – Estreando a câmera 8×10 no centro de SP

Calótipo: Pateo do Collegio SP

Esq: Calótipo (negativo em papel) úmido não encerado com 15x21cm. Dir: inversão digital levemente manipulada em SilverEfex2. Pateo do Collegio, São Paulo, 16/11/2012. Fernando Fortes /Roger Sassaki.

Calótipo: Pateo do Collegio SP

Esq: Calótipo (negativo em papel) úmido não encerado com 15x21cm. Dir: inversão digital levemente manipulada em SilverEfex2. Pateo do Collegio, São Paulo, 16/11/2012. Fernando Fortes /Roger Sassaki.

Finalmente conseguimos colocar a antiga câmera 8×10 para funcionar! Nas últimas semanas, estive ocupado construíndo um chassi (peça onde ficam os negativos) para a câmera fotográfica que me foi gentilmente emprestada pelo fotógrafo Wanderlei Camarneiro do Estúdio Foca. Ainda preciso ouvir dele a história completa desta incrível máquina sem modelo ou identificação de fabricante. A pista é uma data talahada à mão embaixo de sua base: “Jan 1967”. Relegada a enfeite já por muitos anos, porém muito bem conservada, foi requisitada por mim para voltar ao trabalho na missão de produzir calótipos. A grande vantagem desta máquina de madeira é conseguir fazer negativos de até 18x24cm em uma folha de 20x25cm (daí o nome 8×10, que é a medida equivalente em polegadas). Pois na época da fotografia em filmes, quanto maior o negativo, maior a qualidade da cópia gerada a partir dele. No caso dos calótipos e muitos outros processos antigos, negativos grandes eram necessários para se fazer cópias grande pois o processo era sempre por contato. Ou seja, a cópia era sempre da mesma dimensão do negativo.

Máquina 8x10 de madeira

Uma foto “de celular” da antiga câmera fotográfica para negativos 18x24cm. Emprestada por Wanderlei Camarneiro.

O único porém da câmera é que ela estava sem seu chassi, que é a peça onde se “carregam” negativos. Assim, eu tive que produzir um do zero, baseado em um projeto do livro de Alan Green (Primitive Photography: A Guide to Making Cameras, Lenses, and Calotypes). A dificuldade foi aprender a construir com madeira, o que eu nunca tinha feito. Mas depois de vários rascunhos em papel e algum desperdício de madeira, triunfei!

Chassi em construção para a câmera 8x10.

O chassi já praticamente acabado e encaixado na parte de trás da câmera. O tamanho do “buraco” é de aprox. 18x24cm, que é o tamanho da imagem final. As várias ranhuras são para encaixar as diversas peças móveis. A portinha de vidro aberta é o vidro despolido usado para enquadramento e foco. É necessário abri-lo para encaixar o chassi. Normalmente a portinha fica fechada exatamente onde agora está o chassi.

Chassi acabado para câmera 8x10.

O chassi já acabado e pintado de preto. Ele carrega dois negativos que podem ser acessados um de cada lado.

Os materiais para construir o chassi foram quase todos comprados na Casa Aerobrás em SP. A madeira escolhida foi a caixeta, mais barata (mas assim mesmo cara) e forte que a madeira balsa. Os dois calótipos úmidos são colocados verso com verso entre duas placas de vidro de 2mm no interior do chassi. Entre as duas folhas de calótipo é necessário colocar um “filme rubi”, conhecido em inglês como Rubylith. Devido a sua cor vermelha, ele impede que a luz que está expondo um calótipo passe para o calótipo do lado oposto. Eu achei que seria impossível achar este filme no Brasil, mas encontrei na primeira loja que tentei na “Galeria do Rock” em SP. A loja é a Tele Silk, no 3º andar. Eu comprei o de 50 microns de espessura, que funcionou super bem!

Aproveitando o feriado prolongado e as visitas ao laboratório, resolvemos fazer o test-drive da camera/chassi no centro de SP! Carregamos o chassi com um calótipo 20x25cm de um lado e um de 15x21cm do outro e nos dirigimos para a Praça da Sé. Fomos eu, Fernando Fortes e a Ligia Minami, que estava de passagem e foi alistada para ajudar a carregar as coisas. E chagando pra praça, vimos que o pouco sol do final da tarde, que se escondia entre nuvens de vez em quando, não estava do lado certo, iluminando a frente da Catedral da Sé. No melhor estilo “tá com medo por que veio?” resolvemos fazer nosso primeiro calótipo 8×10 em um contra luz, com uma lente nem um pouco limpa e com um “coating” bem duvidoso.

Fotografando calótipo na Praça da Sé

Fernando Fortes e Ligia Minami e eu (fazendo esta foto) cuidando da câmera durante os 15mins de exposição.

Os problemas que encontramos, foram a dificuldade de focalizar corretamente pelo visor da câmera e o vento forte que a balançou bastante. Ficou claro que a cabeça de nosso tripé, embora forte, não é muito estável para esta câmera com vento.

Catedral da Sé pelo visor da 8x10

Catedral da Sé pelo visor da 8×10. A imagem aparece de ponta cabeça na câmera.

Calótipo: Catedral da Sé, SP

Esq: calótipo (negativo de papel) úmido tamanho 18x24cm. Dir: inversão digital levemente ajustada em SilverEfex2. Catedral da Sé, São Paulo, 16/11/2012. Fernando Fortes/Roger Sassaki.

Dados da fotografia da Catedral da Sé

Fotometria:
ISO 100; EV 12
Abertura:
f/4.5
Tempo de exposição:
15 minutos.
Tempo de revelação:
8 minutos

Depois, corremos para o Pátio do Colégio de SP fizemos nossa fotografia com o negativo 15x21cm que está no começo desta publicação. O local mais protegido do vento que ficamos ajudou bastante na nitidez da imagem. Mesmo assim, percebos que temos que ficar atento a profundidade de campo extremamente pequena desta lente 240mm em f/4.5. Você pode perceber que só o topo o obelisco tem foco. E estávamos uns bons 25m dele.

Fotografando o Pateo do Collegio em calótipo

Fernando Fortes e Ligia Minami enquanto esperam os 25min de exposição do calótipo. Pateo do Collegio, São Paulo, 16/11/2012.

Dados da fotografia do Pateo do Collegio

Fotometria:
ISO 100; EV 11
Abertura:
f/4.5
Tempo de exposição:
25 minutos.
Tempo de revelação:
10 minutos

Algumas pessoas se aproximaram curiosas com a grande câmera fotográfia, mas nenhuma achou que ela estava funcionando. Uma moça até achou que fazíamos parte da cenografia do Pateo do Collégio. 🙂

Nossas rápidas conclusões dos resultados do dia:
– As fotos estavam superexpostas. Chutamos a tempo e parece que exageramos. Isso ficou claro com o tempo de revelação que deveria ser de pelo menos 15 minutos. Existem jeitos de diminuir a velocidade da revelação, mas não o fizemos.
– precisamos ter mais cuidado na sensibilização das folhas e na hora de coloca-las no chassi. Ficaram com muitas manchas!
– É muito divertido fotografar em 8×10!

Abraços!

4 Comments

  1. Muito legal! Tenho um brinquedinho destes, porém em tamanho menor (6.5×8.5). Fiz uma adaptação para para que eu possa usar filme 4×5 e o resultado pode ser visto aqui:
    http://www.picturenoise.blogspot.co.uk/search/label/Victorian%20View%20Camera

    Como vc adptou a camera para aceitar os modelos novos de tripé? Tenho uma idéia mas não sei se é muito viável…

    abs

    • Comment by post author

      Muito legal a sua câmera!

      Tente fazer calótipos com ela.

      A base da camera está com um engate de câmera de vídeo meio amarrado com fita hellermann. Não fica super firme mas estava assim e ainda não tive uma idéia melhor. Assim que conseguir eu faço uma foto e posto aqui.

      Abs!

  2. Vou fazer sim Roger, também tenho uns Ilford Positive paper para fazer uns testes… também vou postar fotos quando conseguir adaptar um tripé!
    Abraços…

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.