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Sobre o Tempo: fotografias em placa úmida de colódio

O Imagineiro convida para a abertura no dia 07/05/16, da exposição “Sobre o Tempo: fotografias em placa úmida de colódio”, com fotografias de Anna Silveira, Bruna Queiroga, Laura Del Rey, Lucio Libanori, Maurício Sapata, Osiris Lambert, Roger H. Sassaki, Simone Wicca e Tiana Chinelli.

São 15 obras inéditas produzidas com a técnica fotográfica da Placa Úmida de Colódio em que os artistas foram convidados para discutirem o “Tempo” ao seu gosto.

A exposição ‘Sobre o Tempo – Fotografias em Placa Úmida de Colódio’ fica em cartaz até o dia 28/5 e tem entrada gratuita. Junto com as obras inéditas serão expostas outras imagens do acervo do Imagineiro, coletivo que pesquisa técnicas históricas fotográficas.

A abertura também marca a comemoração mundial do Dia da Placa Úmida, uma celebração voluntária da comunidade de praticantes da técnica.

Serviço

Abertura da exposição ‘Sobre o Tempo – Fotografias em Placa Úmida de Colódio’ e comemoração do Dia Mundial da Fotografia em Placa Úmida
Sábado 07/05, das 10h às 17h
Demonstrações do processo às 11h, 13h, 14h30 e 16h

Visitação da exposição ‘Sobre o Tempo – Fotografias em Placa Úmida de Colódio’:
07 a 28 de maio
Sextas e sábados, das 11h às 16h
Demonstrações aos sábados às 15h.
Outros horários podem ser agendados pelo email contato@imagineiro.com.br
Entrada gratuita

Local:
Casa Ranzini
Rua Santa Luzia, 31 – Liberdade – São Paulo – SP
Próximo às estações Liberdade e Sé do Metrô

Devolvendo o tempo da latência ao olhar

por Angela Di Sessa

As imagens aqui apresentadas não são apenas exercício técnico de um procedimento historicamente definido mas, fruto de uma subversão e resistência aos modos de produção e modos de ver “pós fotográficos” derivados da digitalização e da difusão de imagens no mundo contemporâneo .

Vale citar Joan Fontcuberta ao comentar a produção desenfreada e a publicação em redes sociais:

Nestas fotos (reflectogramas), a vontade lúdica e autoexploratória prevalece sobre a memória. Tomar fotos e mostrá-las nas redes sociais forma parte dos jogos de sedução e dos rituais de comunicação das novas subculturas urbanas posfotográficas, as quais, embora capitaneadas por jovens e adolescentes, deixam poucos à margem. As fotos já não tomam recordações para guardar, mas mensagens para enviar e trocar: se convertem em puros gestos de comunicação, cuja dimensão pandêmica obedece a um amplo espectro de motivações.

Houve a supressão do tempo do trabalho e dos embates com a materialidade dos meios de produção da fotografia analógica. Segundo Fontcuberta ” a pós fotografia é o que resta da fotografia “.

Porém, ficaram para trás também a espera nas longas exposições, o intervalo entre a captação da imagem e a sua visualização, a transformação através do processamento químico da imagem latente em imagem visível/manifesta. A latência como território para a subjetividade e os seus trabalhos silenciosos também ficaram para trás.

Nos processos em placa úmida, em ambrótipo, o intervalo na produção da imagem se estende pois integra a ” fabricação ” de seus filmes, os tempos longos de exposição na captação da imagem, uma vez que remete a um modo de produção pré industrial. Dilata também as fronteiras da observação, do imaginável.

Os procedimentos de linguagem que produziram as imagens aqui expostas, ao contrário do pós fotográfico, re-instauram o intervalo do fazer como operação poética de metamorfosear sentidos. Estabelecem uma ação que se funda na atenção, no entregar-se aos ritmos do tempo ( necessário na produção dos equipamentos, suportes, processamento químico, na exposição e pose prolongada ), no enraizar-se na duração e assim, tornando-se presença/memória. É assim, reemerge o sujeito/criador, que concede lugar ao outro.

A plasticidade da superfície fotossensível se impregna de linguagem. As marcas do trabalho de ver e fazer ver, do tempo do fazer e da latência são ali depositadas. O olhar é convocado a percorrer com suavidade tátil paisagens, corpos, cantos, dar materialidade à imagem do celular. Há tempo para fazê-lo. Há permissão em se deixar afetar pelo tempo e pelos ritmos vitais.

E assim, metamorfoseado, o olhar compassivo e reinserido no corpo, torna-se memória, imprime afetos, produz relicários. Os objetos únicos resultantes dessa operação, apesar da estabilidade e durabilidade do seu material, exibem sua vulnerabilidade na fragilidade de seu suporte em vidro e na superfície delicada de sua imagem. Apresentam-se como pequenas jóias lapidadas que serão quase imortais se cuidadas.

Desejo, memória, pulsão vital emergem nesse exercício de linguagem, da latência à visibilidade, transformando presença em memória manifesta reconciliada com o tempo.

A Placa Úmida de Colódio

A placa úmida de colódio é um dos primeiros processos da história da fotografia. Inventado pelo inglês Frederick Scott Archer em 1851, foi o mais utilizado até os anos 1880, quando foi substituído pelas placas de gelatina de prata e depois pelos filmes fotográficos.

A técnica consiste na aplicação de colódio (um composto químico que funciona como um “esmalte”) em uma placa de vidro (ambrótipo ou negativo) ou de metal (ferrótipo). É no colódio que a prata “grudará” para formar a imagem. Toda criação da foto – preparação química da placa, captação, revelação e fixação – deve ser feita enquanto o colódio ainda estiver úmido, em um intervalo de cerca de 15 minutos.

Depois que a imagem “aparece” na placa – seja ela de vidro (ambrótipo ou negativo) ou de metal (ferrótipo) -, a mesma é seca e envernizada para protegê-la da ação do tempo.

Um processo artesanal que envolve químicos, câmeras de médio e grande formato e longos tempos de exposição, e que pode ser considerado “lento” se comparado à velocidade com que as imagens são produzidas e compartilhadas nos dias de hoje.

“Não parece haver uma razão única para as pessoas se enveredarem pelos processos fotográficos históricos. Mas a descoberta do que é único em cada um deles pode ser a peça que falta para a obra do artista”, afirma Roger H. Sassaki, organizador e curador da mostra e um dos poucos fotógrafos que trabalha com a técnica de placa úmida no Brasil.

Além de impressionar pela riqueza de detalhes, um ambrótipo surpreende os espectadores pela ambiguidade de ser uma imagem negativa que se “transforma” em uma imagem positiva quando o vidro é colocado em um fundo escuro.

Sobre os participantes e suas obras

Anna Silveira
Fotógrafa freelancer formada em Letras pela USP e Fotografia pelo Senac, cursou também Pós-graduação em Fotografia pela FAAP em São Paulo. Uma das fundadoras do blog de viagens Vasto Mundo, participa do coletivo Imagineiro em projetos de oficinas de fotografia analógica, é colaboradora das agências de fotojornalismos Foto Arena (Brasil) e The Wide Angle (Inglaterra), e trabalha na empresa Marinho Comércio, representante de diversas marcas ligadas à fotografia como Leica e Ilford.

Obra: “Tempo: Coisa que passa para lembrar”, 2016 – Ambrótipo

Bruna Queiroga
Graduou-se em jornalismo e, atualmente, pesquisa fotografia e comunicação. Mestre em Ciências da Comunicação pela ECA-USP. Esteve entre os colaboradores do Dicionário de Comunicação, 2ª edição, em 2014. Integrou o júri do 5º Concurso de Fotografia Clique o Futuro, em 2014. Apresentou o artigo “Através do Espelho – Selfie, Comunicação, Estética e Sociedade” no II Seminário de Estética e Crítica de Arte, em 2015. Participou da exposição “Lumens 2016 – Relatos de Identidad”, em Bogotá, Colômbia, com um trabalho também realizado em placa úmida de colódio.

Obra: ‘Passagens’, 2016 – Fotografia em sobreposição de Ambrótipos
Carte de visite da Deusa do Tempo, arquétipo que aparece em Verdandi (viking), Tara (hindu) e Rainha de Maio/ Deusa Maia (grega). A estação que chega se sobrepõe à que se vai. Reflexão sobre as interpenetrações temporais.

Laura Del Rey
Formada em Cinema pela FAAP, é sócia do estúdio Doravante e atua como fotógrafa, diretora e designer. Teve trabalhos expostos no Brasil (Galeria Vermelho, Emissário de Santos, Ímã Galeria e Hotel Hilton) e no exterior (Tunísia, Portugal, França e Guatemala). Foi sócia da produtora Toca dos Filmes, fez o projeto gráfico e retratos de diversos discos e peças de teatro e trabalhou para empresas como Wahba Filmes e Folha de São Paulo. Em 2015 imprimiu seu primeiro livro, Hart. Escreve mensalmente para a revista OLD e colabora com o Jornal de Borda. Atualmente, cursa pós-graduação em formação de escritores no Instituto Vera Cruz. || www.lauradelrey.com.br

Obras: [O amor é mais frio que a morte], 2016 – Ambrótipos
Pequena série de ambrótipos com os atores Gilda Nomacce e Thiago Ledier. As marcas químicas e a transparência típicas do suporte colódio sobre vidro são exploradas de forma progressiva a cada placa, buscando trazer com as manchas fantasmas e cicatrizes que complementem ou desmintam o gestual da relação amorosa que se vicia e desgasta.

Lucio Libanori
É paulistano e trabalha com impressão de obras visuais. Seu interesse pela fotografia surgiu da necessidade de entender o trabalho de seus clientes, principalmente daqueles que usam câmeras de grande formato e o processamento analógico no fluxo de produção de suas imagens. O interesse pelos processos históricos de fotografia nasceu ao conhecer, por intermédio da artista Carolina Mitsuka, o trabalho de Roger H. Sassaki.

Obra: ‘Tão pouco disto dito infinito’, 2016 – Ambrótipo
Retrata o conflito entre a eternidade e a finitude. O ambrótipo representa a angústia do ser humano perante a inexorabilidade do tempo.

Maurício Sapata
Maurício Sapata é fotógrafo e integrante da equipe de educadores do Cidade Invertida. Faz pesquisas em processos históricos como o cianótipo e papel salgado, também atua na preservação e no resgate cultural de processos fotográficos como o lambe-lambe e colorização manual de fotografia P&B. É colaborador de edição da revista fotográfica BLUR.”

Obra: “Foste”, 2016 – Ambrótipo colorido manualmente

Osiris Lambert
Repórter fotográfico desde 1989 atua de forma documental em diferentes publicações nacionais, é filiado a FENARJ e ARFOC, pós-graduando em cinema pela Anhembi Morumbi, em 2015 foi coordenador geral do projeto fotográfico “Árvores Paulistanas”, exposição que percorreu o Conjuto Nacional, Estação Clínicas do metrô e Galeria Olido.

Obra: ‘Venus’, 2016 – Ambrótipo
Tendo como ponto de partida a pintura a óleo “A Venus de Urbino 1538”, de Ticiano, e a unidade temática “Tempo” proposta para esta exposição, propus uma releitura desta obra, que já foi relida em diferentes momentos da história por diferentes autores e artes, desta forma a Vênus, adquiri uma persistência frente ao tempo, não sob a forma de uma excelência pessoal de um comportamento persistente ou virtude, mas sim sob a forma da capacidade de perpetuar-se, e de manter-se por reprodução, pois a obra de Ticiano originalmente não tem mais se não como objetivo principal ilustrar um comportamento esperado frente a imaturidade da noiva de Urbino.
A técnica do colódio úmido que também é uma sobrevivente que rompe a barreira do tempo, vai se relacionar com a releitura da obra de Ticiano por carregar em seu gene o estranhamento ou falha temporal com suas “imperfeitas”, perfeições que lhes são peculiares e que nos remete a um tempo passado.

Roger H. Sassaki
O fotógrafo paulistano atua no jornalismo documental e de espetáculos musicais desde 2000. Lecionou diversos cursos pelo Senac-SP e recentemente seu trabalho autoral o levou a retomar processos fotográficos históricos. Explorador visual, trabalha em estúdio e dá voltas pela cidade registrando-a em calótipos e ambrótipos.

Obras: “Oportunidade”, 2016. – Ambrótipo; “Itororó”, 2015 – Papel salgado de negativo de colódio 20x25cm; “Revisitando Militão”, 2016 – Papel salgado de negativo de colódio 20x25cm;

Simone Wicca
Simone Wicca pesquisa e ensina fotografia e os processos históricos há 16 anos. De 2004 a 2010 formatou e orientou os cursos de fotografia no Sesc Pompeia além de organizar a programação fotográfica (‘FotoAtiva Pará: Cartografias Contemporâneas’, ‘Relatos de Trajetória’, ‘Entre_Vistas Brasileiras’, entre outras) nas Oficinas de Criatividade. Em 2014 criou o LABici, laboratório sobre uma bicicleta para revelação de fotografias pinhole ao ar livre (parceria com Guilherme Maranhão e Roger Sassaki). Em 2015 elaborou o projeto ‘Observatório’, no Sesc Ipiranga, onde um container foi transformado numa grande câmera fotográfica com um laboratório PB em seu interior no qual aconteceram diversas oficinas de fotografia. Atualmente desenvolve pesquisa de processos fotográficos com pigmentos de plantas (Anthotype). Reside e trabalha em São Paulo.

Obra:[, Dá- me um barco.], 2015 – Ambrótipo em lâmina de microscopia e trecho de livro.
Trabalho inspirado no livro ‘O Conto da Ilha Desconhecida’, de José Saramago. O conto narra a história de um homem que vai bater à porta do Rei e pede-lhe um barco para procurar a Ilha Desconhecida. Ele quer conhecer a si próprio quando nela estiver (‘Se não sais de ti, não chegas a saber quem és’).

Tiana Chinelli
Fotógrafa e jornalista soteropolitana radicada em São Paulo. Iniciou carreira no jornalismo esportivo, trabalhou para jornais e revistas, na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, e já foi até paparazzo. Atua como freelancer na cobertura de eventos corporativos e, em paralelo, desenvolve projetos e pesquisas em técnicas históricas de fotografia.

Obras: ‘Colódiofone’, 2016 – Ambrótipos em telas de celular
Série de imagens de placa úmida de colódio usando como suporte telas de celular. Uma leitura crítica do modo como fotografamos desenfreadamente nos dias de hoje, usando como contrapondo um processo lento e contemplativo do século retrasado.

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